maldito transgressor

maldito transgressor
A hipnose é tão aconchegante...
O costume a inércia...
A responsabilidade em ser inteiro adormecida...
A verdade miando lá fora na chuva...
A Televisão que faz o tempo passar tão rápido e confortável...

Não ouço mais os gritos seus
Não ouço mais os gritos meus
Não ouço mais os gritos
Não ouço mais
Não ouço
Não
Ñ
~

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Meu Menino

Dia desses meu menino deu de surgir no topo daquele monte onde nos encontramos quando me aquieto, debaixo daquela árvore de raízes profundas, a brincar de me contar histórias e a rir demais. Rir do quanto sou sério e trágico às vezes. E, me atirando uma fruta, me interrompe a fala e me deixa a rir com ele. Partilhamos a tal fruta num silêncio confortável.

Um vento derruba algumas pequenas folhas sobre nós, uma delas pousa em seu cabelo e não a tiro.

Quando aparece o sol e tem vento, a gente sai pra empinar pipa, correr...

Hoje tive que sair. Minhas pequenas felicidades se cansaram de mim. O barulho de uma onda me chamou e eu corri.

Porque num gramado muito grande dá vontade de correr para embaraçar o cabelo...
E em cada passo vou me escancarando, pois sei como me vêem aqueles olhos.

Esqueço as piadas que havia ensaiado.

Um redemoinho mais forte me empurra.

O vento e a onda são coisas leves que são fortes...

Afinal o que é que aquele moleque quer de mim?!

... e me pôe no cangote para pegar jabuticabas no alto...

Abro mão, me deixo pelo que não sei. Um aconchego estranho se acolhe no meu cólo e está cá dentro. Não faz mais sentido voltar, nem colher pedras caídas, e corro mais.

Avisto, fruta de muita sede, aquele correndo ao meu encontro. Sua simplicidade e inteireza nos movimentos firmes e entregues ao seu próprio vento, me atordoavam. Atordoado me desequilibro em movimentos impensados e sei que são pedaços meus que havia perdido.

Salto em seu cólo e o abraço. Grudando meu peito no seu e é só.

Dia desses meu menino deu de surgir no topo daquele monte onde nos encontramos quando me aquieto. Estamos os dois aqui e agora.
 

sábado, 13 de outubro de 2012

Poemas


      Permanência


Há sempre um ir e voltar...
E o que mais me entristece na volta
é olhar em volta
e sentir em tudo a vibração da visão perdida na dia –
contemplação da esperança já finda.

Em cada andar de regresso
há um todo em retrocesso:
tempo e espaço em cada passo
distância na ânsia do que fomos
do que somos.

Eu que fui não sou eu que volto.
Há algo mais em mim que antes não tinha.
Um pouco mais do mundo
trago aqui no fundo –
algo novo, recente, intransigente
que se fez presente
malgrado eu.

Trago no bolso o lenço sujo
da poeira da estrada;
no coração, a certeza de ter nada.

No cerrar dos meus olhos
há um medo de quem teme ver no espelho
a face transformada
a boca enrugada
a alma amassada.

Ah, como é triste voltar:
quisera ficar, sempre ficar.

Sobe aos meus lábios um grito louco de dor
e eu tenho vontade de dizer tudo o que for
mas de achar em mim
um pouco do que eu era quando vim.

Há sempre um ir e voltar.
Mas há de haver um dia
em que todos me hão de levar
e só eu hei de ficar.



Maria Lúcia Dal Farra



               Intervalo


Há um enorme espaço no meu passo
entre o que sou e o que passo a ser
que enquanto a minha perna direita vai à frente
a minha esquerda fica sempre atrás:
e nunca estão juntas
e eu nunca me igualo
porque nunca paro.

As mãos, não:
ponho-as onde as quero -
mas de que me adianta
se são as pernas que me levam?

E eu me divido toda
entre o que vai à minha frente
e o que fica atrás
e nesta confusão de sentimento e sensação
a única coisa constante
é o meu corpo –
que me leva e traz.

Talvez um dia eu pare.
Sim, talvez eu pare andando.
E então o meu eu vai se dissipar
no vácuo do espaço
entre
meus passos.


Maria Lúcia Dal Farra


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Instante

A vida é feita de instantes. As pessoas vivem a procura de algo que há de fazê-las felizes, deixando pra traz momentos “ridículos” de vida. Preservam energia, economizam vida, evitam riscos, para que o “momento certo” seja alcançado e o que há de fazê-las felizes, adquirido. A posse é uma merda. Pois eu te digo que são justamente esses instantes “ridículos”, a vida que elas perderam, os responsáveis pelas maiores alegrias. Instantes passam e elas continuam ignorando a vida em busca do momento mágico onde algo vai resolver tudo. Esse momento nunca chega ou essas pessoas se desapontam quanto pensam ter alcançado-o, pois economizaram vida de mais. E foram tratores, esmagando toda vida que queriam viver.

Falta de luz elétrica

Acredito na falta de luz elétrica. Acredito no desconforto que esse silêncio traz. Acredito no inacabado desse silêncio. Onde os primeiros poemas foram escritos, mas não publicados. Onde momentos ridículos foram intensamente vividos. Onde sutilmente as árvores quebraram as calçadas com suas raízes. Acredito nesse silêncio perturbador que pega os artistas pelo pescoço e não os deixa esquecer do que precisa ser expressado. Acredito no frio na barriga ao ver um palco vazio sem saber o que vai acontecer lá. Acredito numa arte de urgências onde possa me beber nela e ver vida novamente, à luz natural, olhando no olho, com pessoas reais ao meu lado e sem luz elétrica.

sábado, 6 de outubro de 2012

Salto


Salto, abro os braços e mergulho
ar ar ar ar ar ar ar ar ar
uma queda infinita... marrrrrr
mergulho profundo,
pleno. Deixo tranqüilo que o Mar me leve de novo à superfície. Encho o peito de ar e olho pro céu... ...tanta poesia tentando alcançar esse simples... ...inspiro entregue, acolhido no mar... ... dias de janeiro... deito. Luz
Muda. O mar revolto, o vento forte, o céu preto, sombra, redemoinho... Pro fundo entregue, nos braços do mar, sem resistência... Cavernas, dentes, escuro, restos mortais...
Existo, seguro do que devo, olho no olho do bicho no fundo da caverna... Olhos castanhos cor de mel, tormenta sempre passa... Um soluço estranho, mais parece uma risada... Conduz teu corpo sem se mexer. À tona de novo, agora entendi.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Remar e contemplar


Nunca nada é o mesmo. Eu passo pelo mundo e isso me fascina demais. Estamos sempre com a possibilidade de tudo diferente o tempo todo e o tempo todo tendo que construir tudo o que queremos da maneira que queremos tudo novamente. Minha vida é diferente de a um segundo atraz. Essa autonomia só é limitada pela nossa capacidade de sentir incapacidade. Nosso livre arbítrio tem um poder tão maluco que se resolvermos não poder, reproduzimos a cada recomeço, a cada segundo de nossas vidas, quando todas as possibilidades se apresentam de novo, o sinal de que não podemos e simplesmente continuamos não podendo. Temos tudo pra transformar o que quisermos a hora que quisermos e nós conseguimos nos sabotar o tempo todo. Nada é permanente ! Nada é infinito ! Com coerência seja diferente, cada vez mais, experimente e, cada vez sendo mais diferente, seja igual, seja igual ao que é mais diferente e legítimamente só teu, tua alma.
Saudades dos amigos, saudades de escrever, saudades... não posso parar de remar pra dizer o quanto sinto, remo nesse sentido meu, pois há uma vóz, quase um suspiro - Rema, como no filme... e por toda a história e por todas as saudades...
e é por isso que não paro, até atingir aquela calmaria que se sabe qual é... ...saudades do que não tive, saudades do que não vivi... por isso não posso parar... quando chegar a outra margem posso acreditar em tudo. E aí virão montanhas ha me dizer que as escalei, e aí virão os pássaros dizendo que a eles guiei - terei escutado os ventos do norte soprarem a meu favor e tendo voado mais alto que Fernão voou, buscando o por do sol matarei saudades da minha história mergulhando infinitamente na liberdade.

Eu sou quem procuro.

Assim como as flores, os poetas não escolhem lugar ou classe social para florescer. Poderia ter virado raiz, mas a música mudou meu destino.

Valorizo as coisas simples da vida como o cheiro da terra, as flores e os gravetos. Adoro conversar com pescadores, gente da terra, porque eu tenho aquele espírito.

Me sinto feliz perto do verde. Me inspiro quando olho uma flor e uma folha.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Encontro



Algun dia en cualquier parte indefectiblemente, has de encontrarte, contigo mismo y solo de ti depende, que sea la mas amarga de tus horas o tu mejor momento

O Palhaço Kiska meu amigo, hahahahahaha


Risco


Eu sempre achei que um bom artista fosse aquele que pudesse me fazer acreditar que pode voar... que pode, simplesmente acreditando, se concentrar, pôr um pé no infinito e, na beira do abismo... não cair. Se entregar pra esse vazio e se preencher dele, e, já que a matéria é toda vazia mesmo, permanecer, só permanecer. Enormemente permanecido. Não necessariamente parado e não necessariamente no vazio o tempo todo, pra também não ficar parecendo que zomba desse risco. Mas talvez e só talvez, porque daqui hoje não sairão certezas... talvez permanecer no caminho, caminho esse que passa pelo vazio... mas que continua só pra ver no que vai dar. Aquele tipo de caminho que só a ele mesmo cabe entender. E ele sabe bem dele. E aí então por ele sim, por ele vale a pena voar...
E ser o próprio risco.

sábado, 21 de abril de 2012

domingo, 29 de janeiro de 2012

Música e sensibilidade.

O filme Amargo Pesadelo estava sendo rodado no interior dos Estados Unidos. O diretor fez a locação de um posto de gasolina nos confins do mundo, onde aconteceria uma cena entre vários atores contracenando com o proprietário do posto onde ele também morava com sua mulher e filho. Este último autista e nunca saía do terreno da casa.


A equipe parou no posto de gasolina para abastecer e aconteceu a cena mais marcante que o diretor teve a felicidade de encaixar no filme.



Num dos cortes para refazer a cena do abastecimento, um dos atores que sendo músico sempre andava acompanhado do seu instrumento de cordas aproveitando o intervalo da gravação e já tendo percebido a presença de um garoto que dedilhava um banjo na varanda da casa aproximou-se e começou a repetir a sequência musical do garoto.



Como houve uma "resposta musical" por parte do garoto, o diretor captou a importância da cena e mandou filmar. O restante vocês verão no vídeo.



Observe:

- O garoto é verdadeiramente um autista;

- Ele não estava nos planos do filme;

- A alegria do pai curtindo o duelo dos banjos... dançando;
- A felicidade da mãe captada numa janela da casa;

- A reação autêntica de um autista quando o ator músico quer cumprimentá-lo.



Vale a pena o duelo, a beleza do momento e, mais que tudo, a alegria do garoto, a sua
expressão. No início está distante, mas, à medida que toca o seu banjo, ele cresce com a música e vai se deixando levar por ela, até transformar a sua expressão num sorriso contagiante, transmitindo a todos a sua alegria.

A alegria de um autista, que é resgatada por alguns momentos, graças a um violão forasteiro. O garoto brilha, cresce e exibe o sorriso preso nas dobras da sua deficiência, que a magia da música traz à superfície.

Depois, ele volta para dentro de si, deixando a sua parcela de beleza eternizada "por acaso" no filme "Amargo Pesadelo"