maldito transgressor

maldito transgressor
A hipnose é tão aconchegante...
O costume a inércia...
A responsabilidade em ser inteiro adormecida...
A verdade miando lá fora na chuva...
A Televisão que faz o tempo passar tão rápido e confortável...

Não ouço mais os gritos seus
Não ouço mais os gritos meus
Não ouço mais os gritos
Não ouço mais
Não ouço
Não
Ñ
~

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Picolino(s)

  PICOLINO - NERINO AVANZI

Nerino Avanzi, o Picolino, viveu a infância no paulistano Teatro Polytheama, Vale do Anhangabaú. Pelas frestas assistia aos espetáculos. Fundou em 1913, em Curitiba, o Circo Nerino. Circulou junto com a mulher, a trapezista francesa Armandine Ribolá. O filho Roger Avanzi virou Picolino II. Muitas famílias participaram do Nerino, “o mais querido circo do Brasil”. Em 52 anos, conquistou o “respeitável público”. No livro Circo Nerino, Roger e Verônica Tamaoki (Códex/Pindorama Circus) contam a vida da companhia com paixão e lindas imagens.







CIRCO NERINO












O MESTRE ROGER AVANZI – PALHAÇO PICOLINO II

O Circo Nerino é onde Roger Avanzi vai nascer e onde irá aprender a ser um artista. Seu nascimento data de 7 de novembro de 1922 e, até o fim do circo, em 13 de setembro de 1964, Roger dedica-se a ele integralmente durante 52 anos.

Nerino Avanzi, pai do Roger Avanzi, representa a primeira geração circense da Família Avanzi. Era filho de italianos que vieram ao Brasil em uma companhia de ópera. A avó de Roger veio para o Brasil grávida e excursionou com a companhia pelas principais cidades do país. Na hora de partir de volta à Itália, a criança estava às vésperas do nascimento e o casal, receando os perigos de uma viagem tão longa, decidiram permanecer no Brasil, na cidade de São Paulo. A prefeitura da cidade deu estadia e empregou-os como zeladores do Teatro Polytheana, um teatro todo de zinco no Vale do Anhangabaú. Comenta emocionado, sobre seu pai:

“ eles ficaram morando debaixo do palco e foi ali que meu pai nasceu e ele falava que foi na Itália e nasceu no Brasil, por isso era ‘contrabando’. Ali ele foi crescendo e conhecia muitas óperas, pois as grandes óperas ficavam em cartaz no teatro, só que ele se assustava com os agudos dos grandes cantores”.*

Dez anos após a estréia do circo, nasce Roger Avanzi, na mesma cidade onde seus pais haviam se casado. Roger nasceu no ano da Semana da Arte Moderna, quando Piolim foi homenageado pelos modernistas, como artista popular. Ele concorda que a Semana da Arte Moderna foi importante devido a repercussão que teve, apesar de não estar lá ainda, pois nasceu pouco depois.



Roger estreou no circo em 1923 como bebê de colo, da comédia pastelão. Era uma comédia em que se ficava discutindo de quem era o bebê, e esse era o Roger.

Outro caso fez com que Roger que fazia pontas em dramas, fizesse um papel central; um dos artistas que fazia o papel principal, fugiu do circo. Era época de Natal e ele tinha mais ou menos 14 anos, quando passou a representar papéis de ator, protagonista dos dramas e das comédias de pastelão.

Roger diz que não tinha muito jeito para ser palhaço. Herdou do seu pai a técnica circense que tem hoje, o seu nome.

Nerino, pai de Roger, não gostava muito de teatro e quando criança, já fazia “cirquinho”, à luz de velas roubadas do cemitério. Essas apresentações eram nos grandes jardins das mansões no Anhangabaú. Nessa época tinham muitos circos estrangeiros pela cidade de São Paulo e Nerino terminou saindo com um circo e na sua primeira estréia como palhaço, na cidade de Limeira, ficou envergonhado e saiu correndo. Os estudantes foram atrás dele pelas ruas. Esta é mais uma parte que Roger comenta emocionado.

Iniciado no circo, Nerino começou a fazer muito sucesso como clown de seu irmão Felipe, o Palhaço Maluco que eram a melhor dupla do Brasil, comenta Roger. Nesse sucesso a dupla, mais ou menos em 1910 foi até a Argentina com o circo





A mãe de Roger era uma francesa da quinta geração circense: ‘Roger é da segunda geração por parte de pai e da sexta geração por parte de mãe’. O circo excursionava pela Europa, quando um acidente matou todos os cavalos; ‘uma época onde era chamado Circo de Cavalinhos’, pois os cavalos faziam parte do espetáculo e também transportavam o circo. Isso fez com que o circo parasse e Armandine, mãe de Roger, que tinha um número muito bom com sua irmã Nerris, começasse uma outra apresentação pelos cassinos de outros países europeus; ‘era um show em que Armandine fazia acrobacias, pendurada pelos cabelos de Nerris’. Vieram para a Argentina na mesma época que o Srº Nerino se encontrava neste país. Ele viu em um cartaz a foto de Armandine e falou que ia se casar com ela, mas nunca poderia ir ao espetáculo, pois trabalhava no mesmo horário do show.

Quando estava no Brasil, o circo excursionou pelo interior de São Paulo; nesta época Armandine estava contratada em um cassino de São Paulo, daí as francesas foram convidadas para participarem no mesmo circo que trabalhava o Srº Nerino. Eles se conhecem e mais tarde se casam em São José do Rio Preto, cidade interior paulista. Nascendo o Roger Avanzi – Palhaço Picolino, hoje ainda atuando como palhaço aos 85 anos de idade, morando na cidade de São Paulo.

*Depoimento colhido pelo pesquisador na casa do Srº Roger Avanzi em 1989.

FISIONOMIA E COMPOSIÇÃO DO PALHAÇO PICOLINO

Seu estilo é bastante tradicional e todo o seu instrumental foi baseado na construção do seu pai - Palhaço Picolino I: usava casaca grande preta, colarinho grande, calça com suspensório, chapéu coco e sapatos longos.


Entrevista:

Aos 87 anos, palhaço Picolino defende a profissão e diz que "ser palhaço é coisa séria"




Roger Avanzi, 87, o palhaço Picolino, um dos palhaços mais velhos ainda em atividade no mundo.

Com apresentação marcada para sábado (20), Picolino é defensor da profissão e não gosta do uso do palhaço em protestos. "Sou contra as pessoas usarem narizes vermelhos como forma de protesto. Ser palhaço é coisa séria. Acho que não deveriam mexer com o nosso nariz, mas sim com os deles próprios", diz Avanzi. "Deixem-nos em paz para alegrar as pessoas", completa.



Mas as críticas de Avanzi vão no sentido de preservar e também modernizar o palhaço e o circo para o público atual. "Parece-me que não é muito interessante ver palhaço hoje em dia. Há exceções, mas acredito que os palhaços devem se preparar melhor para conduzir e entreter as crianças", explica o palhaço que é tido como padrinho de membros de grupos como os Parlapatões e o Circo Zanni. "Os circos ainda atraem multidões em todo o mundo e esta arte sempre vai estar viva", conclui.





Avanzi contou, em entrevista por telefone ao UOL, um pouco de sua trajetória e o que pretende apresentar em sua participação no Risadaria. "A minha história é bem rápida. Vou te contar em uns dois minutos, 50 minutos, um ano e por aí vai, até quando eu não conseguir mais falar", brinca o palhaço às gargalhadas.


UOL: Como o circo e o Picolino entraram na sua vida?
Roger Avanzi: Meu pai, Nerino Avanzi, veio de navio da Itália e fundou o Circo Nerino na cidade de Curitiba (PR), em 1913, que funcionou por mais de 50 anos. Foi ele que deu vida ao primeiro Picolino. Lá, aprendi a dominar vários números de circo – a fazer acrobacias, andar de bicicleta e cavalo. Comecei trabalhando ao lado de meu pai. O tempo passou e meu pai foi envelhecendo até chegar o dia em que não agüentava mais trabalhar. Ele teve de desistir do Picolino e comecei a me apresentar como o "Picolino 2º" aos 32 anos, em 1954.

UOL: Qual a graça em ser palhaço?
Avanzi: O bom de fazer um palhaço é a palhaçada [risos]. É uma delícia, mas tem que saber para quem estamos nos apresentando. Se estamos fazendo um show para adultos, fazemos palhaçada para adultos. Se a plateia é heterogênea, procuramos mesclar as piadas. Mas o mais gostoso é fazer uma palhaçada mais tradicional e ver as crianças se divertindo com as nossas brincadeiras, porque a gente também se diverte muito. Criança é a coisa mais linda do mundo!



UOL: O senhor acha que os palhaços fazem hoje o mesmo sucesso do passado?
Avanzi: Tenho ido a alguns circos grandes e percebo que, enquanto os palhaços trabalham, as crianças andam em volta das cadeiras, passeiam, não estão interessadas em nada. Não quero generalizar, mas parece-me que não é muito interessante ver palhaço hoje em dia. Há exceções, mas acredito que os palhaços devem se preparar melhor para conduzir e entreter as crianças...


UOL: Ao longo de sua carreira o senhor já ensinou muitos outros palhaços?
Avanzi: Depois que o circo do meu pai parou de funcionar, vieram me procurar e acabei participando da turma de professores da primeira escola de circo do Brasil, que nasceu em São Paulo no fim da década de 70. Lá, dei aulas de palhaço, bicicleta acrobática, monociclo pequeno, monociclo gigante de quatro metros... Depois, comecei a dar aula no Circo Picadeiro.


UOL: Quem já foi seu aluno?
Avanzi: Sim, hoje há grandes grupos que passaram pelas minhas mãos, como o Parlapatões e o pessoal do Circo Zanni, que me chamam de ‘mestre’, o que me deixa todo acanhado. Mas tenho muito orgulho do meu trabalho.

UOL: O senhor pensa em se aposentar?
Avanzi: Já faço força para aguentar o ritmo de trabalho porque a idade pesa. Não digo que vou me aposentar porque, quando penso nisso, parece que uma força me obriga a continuar com o meu ofício. É incrível! Acho que gosto mesmo disso...

UOL: O senhor acha que o circo tradicional vive um período de decadência no Brasil? Como você avalia o trabalho do Cirque du Soleil, que se pauta bastante na tecnologia em seus shows?
Avanzi: Se o circo tiver um bom espetáculo, as pessoas irão. Se não tiver condições ou apresentar um show medíocre, não chamará atenção e as pessoas não irão se interessar. O Cirque du Soleil tem um bom espetáculo e toda a temporada tem grande procura. Todos querem comprar ingressos e não conseguem. É um espetáculo grandioso, mas não é próprio para crianças. Claro, os pais podem levar seus filhos porque é bonito, mas não tem a graça do palhaço que havia nos circos antigos. O cenário é escuro, fica tudo meio na penumbra e a gente não vê direito a cara do artista, se está rindo ou chorando. Mas é um outro tipo de espetáculo, uma grande produção e atrairá público sempre. Por sinal, tenho três sobrinhas que trabalham no Cirque em Las Vegas, Estados Unidos.





UOL: O governo deveria investir mais no circo?
Avanzi: O governo precisava investir mais. Tudo aquilo que não recebe ajuda do governo tem mais dificuldades para evoluir. Muitos circos pequenos começam assim e não vão para frente. Uma das coisas que mais trazem problemas para o circo é o espaço. Antigamente, as lonas eram armadas nos centros das grandes cidades e no interior. Hoje está tudo congestionado. O Cirque du Soleil, de novo ele, tem uma propaganda toda em volta, mas, mesmo assim, armou sua tenda longe (o grupo canadense se apresenta no Parque Villa-Lobos, na capital paulista); tem que ir de carro. E vai quem tem dinheiro. Anos atrás, quando tínhamos espaço, havia vários circos estrangeiros trabalhando no Brasil. Muitos desses artistas, inclusive, ficaram no Brasil e fundaram outros circos.

UOL: Atualmente, as pessoas têm feito uso dos narizes vermelhos como instrumento de protesto e ninguém quer ter “cara de palhaço”. O que o senhor acha disso?
Avanzi: Sou contra e todos os palhaços são contra. Quando querem bagunçar, põem o nariz vermelho e saem reclamando que não são palhaços. Ser palhaço é coisa séria. Acho que não deveriam mexer com o nosso nariz, mas sim com o deles próprios. Deixem-nos em paz para alegrar as pessoas!



UOL: Você participa neste fim de semana do Risadaria. Como será a sua participação no evento?
Avanzi: Vou fazer uma apresentação rápida, de 10 ou 15 minutos, porque o tempo é curto e tenho que abrir passagem para os que vierem depois. Mas um evento deste tipo é muito bom porque a risada é igual em todos os idiomas. É universal. E o Risadaria está ajudando a promover o humor e a provar a nossa força.




CURIOSIDADES
- A Escola Picolino de Artes do Circo foi criada em 1985, na Bahia, como uma escola de circo particular e que também realiza trabalhos com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Da escola, saíram nomes importantes do circo brasileiro, como Jailton Carneiro, integrante do elenco do espetáculo “Quidam”, do Cirque du Soleil, que se apresenta no Parque Villa-Lobos (SP). Ele faz parte do ato “Spanish Webs” (Cordas lisas)
- Em 1997, foi criada a ONG Associação Picolino de Artes do Circo, voltada para o trabalho de desenvolvimento infanto-juvenil da arte-educação.
- A Companhia de Circo Picolino é formada por 25 jovens artistas, todos ex-alunos da Escola Picolino de Artes do Circo. O trabalho desenvolvido diariamente envolve aulas, treinos e ensaios orientados por professores e técnicos especializados.




                                   Ricardo Otello Queirolo (Também usava o nome Picolino)
Filho de Elvira e Ricardo Queirolo, nasceu em 30 de janeiro de 1923 na cidade de São Paulo. Era terceira geração do clã Queirolo, um dos mais importantes da história do circo brasileiro. Yan de Almeida Prado em suas deliciosas crônicas “Circo de Cavalinhos”, publicadas em 1929 no Diário Nacional, assim descreve a famosa trupe:

“Não se pode falar em circos em São Paulo sem referência à irmandade Queirolo. Indubitavelmente foram os que mais fizeram pelo espetáculo circense entre nós. Tornaram seu barracão numa verdadeira escola de cômicos de primeira ordem. No seu âmbito formaram-se os conhecidíssimos Piolin, Chicharrão, Harris, Chic-Chic e outros que não se pode conhecer. Nem os mestres sabem quantos são, porque é difícil contar os que aprenderam olhando-os trabalhar.”

O clã originou-se do casamento do cantor lírico José Carlos Queirolo e de Petrona Sallas. Nas andanças que os dois fizeram pelo mundo, depois de sair da Espanha, nasceram os filhos em cada país por onde passavam. Um irmão nasceu no Chile, outro na Argentina, outro no Peru, outro na Bolívia, outro no Uruguai, e assim por diante ( Francisco - Pancho, Alcides - Gato Félix, Irma - avó de Bibi Ferreira, José Carlos - Chicharrão, Aída, Esther, Julian, Otello - Chic-Chic e Ricardo – Negrito). Com a morte do marido, Petrona criou o grupo Irmãos Queirolo, que antes de se estabelecer no Brasil, rodaram o mundo. Em 1912, por exemplo, na Alemanha, foram condecorados pelo Kaiser Guilherme II, e nesse mesmo ano, atravessaram o atlântico para participar da inauguração do Teatro Amazonas.

Ricardo Otello fez sua estréia no picadeiro, aos sete anos de idade, como partner de sua mãe que era malabarista. Aos 9 anos, passou a se apresentar como acrobata, e aos 18, honrando a tradição da família, como o palhaço Espoleta.



De 1941 a 1944, com o irmão e Julião e os primos Lídia Lafayete, Henricredo e Sérgio formaram o grupo “Diabos Brancos” que se apresentava em grandes cassinos do país até o fechamento desses estabelecimentos, quando voltam então a se apresentar em circos.



Em 1955, Ricardo se afastou da vida artística e, com a esposa Dorthy e os filhos Dorothy e Ricardo Neto, se estabeleceu em Curitiba, e posteriormente em Londrina, como comerciante. Até que, nove anos depois, em 1964, foi convidado pela TV Coroados a participar de um programa infantil. Foi então que ele criou o palhaço Picolino. O sucesso foi tanto que o programa passou a ser apresentado em outras emissoras de televisão do Paraná (Cultura de Maringá, Tibagi de Apucarana e Tupi de Cornélio Procópio). E em 1981, Picolino estreava um programa próprio – Circo Show Infantil - na TV Tropical de Londrina, que vai até 1992, quando deixa a TV.

Desde então, trabalhou com jovens artistas de Londrina interessados nas Artes do Circo, principalmente com o grupo Plantão Sorriso, palhaços que atuam em hospitais da cidade.

Em 2003, foi homenageado pelo Festival Internacional de Teatro de Londrina, no qual apresentou, no dia 9 de maio, a pantomima “Picolino e os cangaceiros”. Menos de dois meses depois, no dia 3 de junho, Ricardo Otello Queirolo, passou dessa para, esperamos, uma melhor. Mas não será esquecido pois foi eleito patrono da Escola de Circo de Londrina, inaugurada em 2004. Reverenciemos sua memória.





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