maldito transgressor

maldito transgressor
A hipnose é tão aconchegante...
O costume a inércia...
A responsabilidade em ser inteiro adormecida...
A verdade miando lá fora na chuva...
A Televisão que faz o tempo passar tão rápido e confortável...

Não ouço mais os gritos seus
Não ouço mais os gritos meus
Não ouço mais os gritos
Não ouço mais
Não ouço
Não
Ñ
~

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Mulheres Palhaças




Existe uma graça feminina? Uma comicidade que só a mulher pode ter? Hoje celebra-se, no Brasil, o Dia do Palhaço. A data foi criada em justa homenagem ao palhaço Piolim (Abelardo Pinto, 1897-1973). Mas a reportagem do Caderno 2 pede licença a todos os homens - que desde os tempos imemoriais com seus narizes vermelhos, sapatos bicudos e roupas coloridas encantam crianças e adultos - para dar voz à mulher palhaça.


Em todo o mundo, não faz muito tempo, elas vêm chegando de mansinho, com delicadeza, para compartilhar espaço no picadeiro. A presença feminina na palhaçaria - pelo menos para valer, em quantidade, sem contar pioneirismos de mais ousadas - tem no máximo 20 anos. Por exemplo, quando em 1991 quatro jovens cariocas fundaram As Marias da Graça, surgia o primeiro grupo brasileiro integrado inteiramente por clowns femininos: elas eram Vera Lucia Ribeiro, Geni Viegas e Karla Conká, até hoje na companhia, e Ana Luisa Cardoso, a palhaça Margarita, atualmente em carreira-solo. Com a entrada de Samantha Anciães, as Marias voltaram a ser quatro. Na semana passada, elas apresentaram em Viena o espetáculo Tem Areia no Maiô.





Mas ao entrar na palhaçaria, a mulher transforma o modo de fazer rir? Eis a questão. Bem, de saída tem de ser mudada a resposta à pergunta: o palhaço o que é? E não dá para simplesmente inverter: ladra de homem não cola. Claro, alguma coisa muda com a presença feminina, mas há algo de realmente específico no humor da palhaça? Depois de ouvir algumas artistas do riso, a conclusão é a de que esse assunto controverso dá rasteira em todas as convicções.




Comecemos por tombos, tabefes e cascudos, ações que sempre vêm à mente quando pensamos em palhaços. "Mulher apanhando ou batendo não é engraçado", diz Beatriz Sayad, que atua nos Doutores da Alegria. "Talvez pelo ambiente do hospital, talvez pela violência contra a mulher; só funciona se for muito falso, se revelar o truque", diz ela. Em compensação as palhaças provocam riso ao desmaiarem ou se atrapalharem diante do chefe ou do médico bonitão.




Outra imagem característica é a perda das calças, o palhaço que mostra as ceroulas. A nudez funciona no humor feminino? "Não funciona da mesma forma, assim como o travestimento: homem vestido de mulher é engraçado e o oposto não. O gênero, o sexo, é totalmente relevante no humor", diz Rhena de Faria, criadora de Mademoiselle Blanche, uma das 4 mulheres palhaças entre os 12 integrantes do Jogando no Quintal.





Mas, curiosamente, no espetáculo Pelo Cano, as palhaças Vera Abbud (Emily) e Paola Musatti (Manela), ambas também do Jogando no Quintal, competem pela beleza e Manela chora porque a outra diz que ela tem a bunda amarela. "No fim, ela mostra a bunda que é mesmo amarela", diz Vera. Mas dá para perceber que se trata de um número com "colorido" especial, não é simplesmente uma abaixada de calças.




E mais. Mafalda Mafalda, nome da palhaça de Andrea Macera, dá verdadeiras surras no pobre Zabobrim (Ésio Magalhães), seu parceiro no espetáculo A Julieta e o Romeu. Todo palhaço lida com objetos de cena: pois tesoura e espingarda fazem parte do solo de Mafalda Mafalda, assim mesmo, nome duplo, para caber seu ego de diva. "Quando me iniciei nessa arte, eu queria ser mais engraçada, mais suave, mas nunca consegui", diz Andrea. Na tradicional dupla de clowns há o chamado branco - o que sabe tudo, mandão e batedor - e o augusto - trapalhão, o que sempre apanha. A palhaça de Andrea pode ser chamada de ?branca?, assim como Margarida, a palhaça de Adelvane Néia.




"Tudo depende de como se faz e a mulher faz diferente", argumenta Adelvane, conhecida por sua defesa da comicidade especificamente feminina. "Não li sobre isso, não teorizei." A prática trouxe o reflexão. "Quando comecei tinha muita dificuldade com os modelos da tradição clássica, tropeçar em cadeiras, as quedas. Eu nunca vi tapa na cara entre duas palhaças ser engraçado. Claro que sempre existiram palhaças no picadeiro, ainda que raras, na maioria das vezes travestidas de homem, mas nunca se teorizou sobre elas. Acho que às mulheres faltam referências, modelos; estamos construindo isso agora." O que não quer dizer que sua palhaça seja só suavidade, pelo contrário. Ela mesma, como Margarida, chega ao local da representação bem mal-humorada e antipática.




Nos últimos anos, a cada debate sobre palhaçaria lá vem a discussão em torno da existência ou não do humor de gênero, a suposta comicidade feminina, e sempre há controvérsia. Com uma coisa todos concordam: o arquétipo do palhaço é a inadequação, os limites humanos que levam ao ridículo. O sexo masculino, historicamente, sempre esteve associado ao poder e a mulher à fragilidade. Talvez por isso tenha graça homem vestido de mulher, apanhando ou caindo.





"Demorou para que a mulher colocasse a feminilidade como expressão humorística", diz Rhena. "Arrisco o palpite de que essa demora ocorreu porque o humor adquire seu espaço somente depois do processo de afirmação. Acho que é mais difícil conseguir rir da gente mesma quando ainda estamos tentando ser levadas a sério. E a mulher levou mais tempo para conquistar o seu espaço na sociedade. Hoje já conseguimos fazer humor de nosso lado mais ridículo." Rhena de Faria é diretora do solo de Andrea Macera e autora de um artigo sobre o cômico feminino intitulado Palhaça Sim Senhor, do qual ?roubamos? o título.




"O arquétipo do palhaço é masculino", concorda Ana Luisa Cardoso. Mas essa pioneira na palhaçaria no Brasil - que por sinal não gosta de ser identificada assim em consideração às ousadas mulheres palhaças de todos os tempos - diz que cada vez mais busca recriar as entradas clássicas circenses. "Por exemplo, há aquele truque de encher um balão como se fosse o dedão do pé que incha depois que um objeto pesado cai sobre ele; como Margarita, eu inflo meus peitos, eles estouram em cena, e os homens morrem de rir", conta.





"Eu sempre me encanto com o palhaço", afirma Ana Luisa. "A mulher ainda está caminhando. Eu diria que ela avança muito bem, mas pessoalmente admiro o palhaço tradicional e estou querendo buscar o equivalente feminino das reprises antigas do picadeiro." Apaixonada por Carequinha, ela se inspirou no bordão do ídolo - "tá certo ou não tá?" - para criar o seu: "tá tudo errado." Em seu número de rua, ela chega munida de vassouras, baldes e panos e limpa tudo criteriosamente, atitude por sinal presente em muitas palhaças, a obsessão pela limpeza. "Mas em seguida ela decide fazer um bolo, e aí já viu: farinha, ovos... Ela mesma diz: como eu sabia que iria sujar comecei limpando."





Ao fundar seu grupo, As Marias da Graça tornaram-se referência para jovens palhaças e falaram à reportagem do Estado via internet, pois estavam em Viena como convidadas do Clowin, um Festival Internacional de Palhaças. "Foram nove dias durante os quais apresentamos Tem Areia no Maiô, participamos de um debate com palhaças de Israel sobre o tema Mulher, Humor e Pobreza, e assistimos a todos os espetáculos como curadoras, para trazermos em 2009 ao Brasil algumas das palhaças que vimos. Após participamos de um festival de palhaças em Andorra, em 2003, resolvemos criar o nosso, intitulado Esse Monte de Mulher Palhaça, em 2005. Já tivemos a 2ª edição em 2007 e teremos a 3ª em setembro do ano que vem."





Para as Marias, homens e mulheres são diferentes, conseqüentemente o humor mostra essa diferença. "Existem várias palhaças que trabalham tendo como referência as gags tradicionais. A gente escolheu um outro caminho, criamos nossas próprias referências. Para nós, a palhaça (e o palhaço) trabalha com a verdade, o humor vem de dentro para fora, o que imprime uma autenticidade às questões."





Quanto ao ?humor vem de dentro?, também há polêmica. Há duas vertentes no que diz respeito à criação do palhaço. Numa delas, que tem o Grupo Lume como uma das principais escolas brasileiras, difunde-se a idéia de que cada um tem seu próprio clown, personalizado, misto de subjetividade e olhar sobre o mundo. Já no circo clássico, o palhaço tem talento cômico, mas aprende em família, herda uma forma de fazer que é secular, as chamadas reprises, entradas, gags. O que é comum a ambos é a subversão do poder por meio da exposição do ridículo - a poética do palhaço está no fracasso.




De uma ou outra forma, a diversidade talvez seja mesmo a marca do universo das palhaças. Algumas exploram os chamados temas femininos - beleza, envelhecimento, obsessão por limpeza, entre eles -, outras preferem recriar, com um sutil toque feminino, as gags tradicionais e outras ainda exploram poéticas universais. É o caso de Silvia Leblon, cujo solo, Spirulina em Spathodea tem como tema nada menos que a morte. "Uma das coisas que caracterizam o palhaço é o jogo com objetos", diz Silvia. No seu caso, sai de seu baú, entre outras coisas, uma boneca inflável que ela enche e esvazia ou mata e ressuscita, na sua lógica. "Muitos dizem que Spirulina é fantasmagórica, espectral, não se sabe se é gente ou boneca", conta Silvia. O fato é que seu solo é onírico e ganha tons que independem de gênero.




Mas se o palhaço nasce para subverter a regra, na opinião de Vera Abbud, a mulher pode quebrar expectativas sobre o suposto humor feminino. "Como palhaça, posso fugir do estereótipo da competição entre mulheres, do excesso de funções, da solidão de não ter marido, de ser infeliz por estar gorda ou magra. Posso ir por outro caminho, posso mostrar por exemplo o ridículo da maternidade", diz. "Posso buscar outras inadequações, e não vestir a carapuça do feminino."




Sempre rende gargalhadas, por exemplo, adentrar pelo dito universo masculino. No solo Margarita Vai Margarita, a palhaça de Ana Luisa Cardoso, chega na rua de macacão de gari limpando tudo e buscando briga. "Ela luta boxe." E, claro, tira humor disso. As Marias da Graça fizeram do futebol tema de um de seus mais bem-sucedidos espetáculos - Pra Frente Marias, que elas planejam reencenar em breve. Era um espetáculo mudo, uma partida de futebol, na qual o diálogo, e até os pensamentos, de jogadoras e da juíza, podiam ser lidos pelo público em placas.




"Homens e mulheres são diferentes, conseqüentemente o humor mostra essa diferença", argumentam as Marias da Graça. "A pancadaria não faz parte da tradição feminina, mas isso não quer dizer que as mulheres não batam." Que o diga o pobre Zabobrim apanhando de sua amada Mafalda Mafalda. Mas só mesmo para fazer rir o respeitável público. Afinal, aos tropeços, a mulher chegou ao picadeiro com humildade e a graça de palhaça.




Navegue No Riso









http://www.barracaoteatro.com.br/







HOMEM OU MULHER, ARQUÉTIPO É A INADEQUAÇÃO

SUBVERSÃO DE PADRÕES: Nós achamos que aula de palhaço(a) deveria fazer parte do currículo escolar, porque a criança aprenderia a ser autêntica, garantindo sua individualidade dentro de uma sociedade que exige um padrão. A inadequação feminina acontece quando você percebe que não quer se encaixar dentro de um padrão preestabelecido. Como palhaça você pode tudo, inclusive não se adequar a nada. Fomos criadas para sermos perfeitas, santas, lindas. Quando decidimos ser palhaças, rimos disso tudo com olhar crítico.



Geni Viegas, Karla Conká, Samantha Anciães e Vera Lucia Ribeiro (As Marias da Graça)
http://www.asmariasdagraca.com.br/

Reflexão sobre o Processo Criativo

PISTAS SOBRE OS PROCEDIMENTOS CRIATIVOS NA LINGUAGEM DO PALHAÇO
Débora de Matos e Valmor Beltrame

Universidade do Estado de Santa Catariana – UDESC
Palhaço; Teatro de rua; Processo Criativo.

Este estudo objetiva apresentar resultados parciais da pesquisa Processos Criativos e
Princípios Técnicos na Linguagem do Palhaço, desenvolvida junto ao Programa de Pós-
Graduação, Mestrado em Teatro na UDESC. Neste texto, nossas atenções estão voltadas ao processo criativo de um dos três palhaços selecionados para o corpo de análise da pesquisa: o palhaço Chacovachi (Fernando Cavarozzi).



A linguagem do palhaço configura-se como forma de expressão cênica, valendo-se de
algumas especificidades, dentre as quais destacamos: a exposição exagerada dos próprios sentimentos do artista; sua interação com o público, de forma direta, recorrendo ao contato pessoal e único estabelecido com os presentes; sua capacidade de provocar o riso na platéia,instigando-a à experimentação de diversos sentimentos. Livre, exagerado nos próprios sentimentos e com o fim de fazer rir, o palhaço é dono de uma composição gestual que se apóia na contradição, no exagero e na busca de revelar o artista: seu ridículo e seus sentimentos.




Herdeira do manifesto da cultura cômica popular, a linguagem do palhaço serviu-se por
longos anos de técnicas que deram suporte à prática do artista popular: música, dança, mímica,acrobacia. As técnicas auxiliavam o artista a seduzir o público, promover o riso e provocar inquietações lançadas numa lógica às avessas em contraposição à lógica oficial. A formação profissional do palhaço revelou-se, tradicionalmente, radicada à reminiscência oral. Essa prática contempla o exercício da comunicação, a aquisição de habilidades técnicas e o acumulo de
funções: o artista é capacitado a atuar, conceber seu texto e dirigir seu número. Estudos sobre a sistematização dos procedimentos técnicos que caracterizam o trabalho do palhaço vêm se fortalecendo desde as últimas décadas do século XX.





Após a formação do repertório técnico, o trabalho do palhaço sustenta-se mais na
articulação do seu arsenal criativo, construindo variações no contato com o público, do que na constante busca da criação. A sistematização da prática confia ao cômico um acervo técnico,conferindo-lhe liberdade no diálogo com o público e com o companheiro de cena. Numa relação direta e real, o artista torna-se atento aos aspectos acidentais decorridos da platéia, incorporandoos à representação.
Percebemos no processo criativo do palhaço Chacovachi que sua construção artística
provém do empirismo das habilidades corpóreas, concedendo-lhe estado de presença e dilatação da capacidade interativa. Chacovachi é um palhaço argentino que direciona sua prática ao específico da linguagem da rua. É conhecido como Palhaço Filósofo ou Terceiro-Mundista pela forma peculiar com que articula e desarticula o riso da platéia com suas provocações e delírios.

Embora convivamos com momentos de sublimidade, encontramos em sua expressividade
a forte presença de um gestual grotesco. O grotesco refere-se a uma acentuação estética e ideológica, comumente ligado ao “baixo corporal” e ao material. Vinculado ao tragicômico,valoriza o equilíbrio instável, provindo da combinação harmoniosa entre o risível e o trágico. A comédia contém, implicitamente, a tragédia, no que assim não sendo, revela-se uma comédia inacabada (FRYE apud PAVIS, 1999: 420). O tragicômico e o grotesco promovem uma comicidade que confronta o riso à inquietude. A tragédia e a comédia, o grotesco e o sublime são alguns dos múltiplos paradoxos que compõem a linguagem do palhaço.

Segundo Chacovachi, a criação do número, no trabalho do palhaço, contempla um nível
técnico (habilidade técnica necessária para desenvolver um determinado número); um artístico (recursos utilizados como a música, o figurino, a forma com que se comunicará); e um criativo (a forma de articular todos esses elementos). Contudo, o desenrolar final deve estar ligado ao palhaço: ao divertir e provocar 2. Segundo Chacovachi, um número se torna um número quando é possível alguém “roubá-lo”. Ou seja: somente depois de codificada a seqüência de ações(incluindo, de forma sistemática, os momentos de interação) é que o palhaço tem seu número
“concebido”. Não temos dúvida, porém que a construção do arsenal criativo resulta da
experimentação adquirida, sobretudo, através dos elementos acidentais e improvisados nas representações, e que, ao funcionar bem, o artista segue repetindo até levá-lo à codificação,integrando-o ao repertório.






Ao iniciar sua jornada artística Chacovachi instalava-se em praças de Buenos Aires pelos finais de semanas. Seu material limitava-se a reprodução de números que observava no trabalho de outros cômicos. Entretanto, a rotina de ir às praças todas as semanas, serviu-lhe de escola. A experiência da rua lhe permitia muitas possibilidades de estudo. Com o passar dos anos e com as viagens a festivais, o palhaço argentino expande suas fronteiras artísticas de forma a ir criando
seu próprio material cênico. Passa a colocar sua visão de mundo em sua arte 3.
Chacovachi arquiteta seu atual espetáculo Cuidado, un payaso malo puede arruinar tu
vida em três números: no primeiro, o palhaço provoca-nos, mostrando quão fácil o ser humano é enganado, mesmo por aquele que acabou de lhe dizer que o enganará; o segundo, a tradicional tortada na cara, Chacovachi faz com que, em poucos minutos, uma pessoa do público que estava ali sem saber que assistiria a uma apresentação, jogue uma torta em seu próprio rosto, diante das demais pessoas, sem sentir-se mal; no terceiro, Chacovachi revela-nos com jocosidade até onde o palhaço vai para conseguir divertir seu público, mesmo sem ter a garantia de consegui-lo. Os
números são permeados de chistes que ele lança conforme o jogo com o público.
A estrutura do espetáculo de rua para Chacovachi adota a seguinte armação: a pré-préconvocatória,o artista não é reconhecido como tal, mas já chama atenção; a pré-convocatória,mostra-se como artista, organiza seu espaço e seu figurino; a convocatória, convida os espectadores ao espetáculo, objetiva agregar pessoas; a farsa do começo, jogo com espectadores,agrega pessoas e estabelece cumplicidade; os números, utiliza números de habilidades e participativos; a passada do chapéu - provoca expectativa e jocosidade; o número final, número curto de despedida.
Cada palhaço encontra sua forma própria de estabelecer o diálogo com seu público: “cada um tem uma técnica própria de prender a atenção, instigar e provocar reações ativas na platéia”(PUCCETTI in FERRACINI, 2006: 143).
Chacovachi, em sua atitude criativa, não nos faz rir de quedas ou da construção de um tipo “tonto”. Seu espetáculo nos diverte num humor amargo e inquietante. As situações que nos fazem rir são, também, argumentos a nos convidar a chorar.




O diálogo com o público proporciona distintas formas de proceder a cada apresentação.
Como num jogo de xadrez, metáfora utilizada por Chacovachi para refletir sua prática artística, o palhaço tem determinadas peças e conhece as regras do jogo. Nesse jogo o rei representa a dignidade e a energia, não pode perder. A Rainha é a personalidade e a atitude, qualidades imprescindíveis para mover-se no jogo. Bispos, Torres e Cavalos são os números, você pode cambiá-los conforme o público se move. Os peões são suas gags e chistes: piadas curtas que você gasta para avançar no jogo. O palhaço mexe suas peças conforme o jogo com o público. Logo,com o mesmo material o palhaço articula de diferentes modos seu espetáculo. Cada apresentação
revela-se única, pois cada público tem sua forma de mover-se, exigindo do artista diversas respostas.
Assim, embora Chacovachi possua uma seqüência codificada de ações e interações, ao
observarmos realizar tal seqüência em diferentes apresentações, percebemos que suas ações estão carregadas de frescor. Se por algum instante lamentamos que não tenha utilizado um comentário que na apresentação anterior nos pareceu tão admirável quando já não lembrávamos mais, ele lança-o, surpreendendo-nos novamente.
O processo criativo de Chacovachi mostra-se apoiado num gestual que combina mistério
e desvelamento, engano e desengano, tendo na contraposição entre trágico e cômico, grotesco e sublime a promoção da ilusão e do distanciamento com que o artista manipula conscientemente o público. O exagero e a contradição são aspectos valiosamente explorados na cena do palhaço argentino. Embora sua rotina esteja estruturada, sabendo quais instrumentos utilizará em cena,sua disponibilidade de estabelecer uma relação real com as pessoas presentes, que lhe proporcionam reações diversas e, por vezes, não esperadas, corrobora com a vivacidade de suas ações, que aos nossos olhos parecem improvisadas. Sob o suporte de uma estrutura codificada o
palhaço reage, improvisa suas ações, adaptando-as continuamente em função de seu estado interno, sua lógica de ação e a relação que estabelece com o meio, especialmente, com o público.


Algumas escolas de ator direcionam parte de seu programa ao estudo da arte do palhaço (Ecole International de Theatre Jacques Lecoq, Ecole Philippe Gaulier). No Brasil, assistimos ao crescimento dos cursos voltados à formação:
Ricardo Puccetti (Lume); Ésio Magalhães (Barracão Teatro); João Artigos (Teatro de Anônimo); outros.

CHACOVACHI, Fernando Cavarozzi. Entrevista concedida a Débora de Matos, especialmente para a dissertação de Mestrado, 2008.

Vale mencionar que há dez anos Chacovachi organiza um circo que todos os anos juntam-se alguns artistas com diferentes habilidades e, num intercâmbio, montam um espetáculo que mescla a linguagem do circo à da rua.

Bibliografia
FERRACINI, Renato (Org.). Corpos em Fuga, Corpos em Arte. São Paulo: Aderaldo & Rothschild
Editores: Fapesc, 2006.
PAVIS, Patrice.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ALGUNS PENSARES (Textos)

PALHAÇO


“O fenômeno, para Lecoq, ultrapassa a simples representação e seu espetáculo. Torna-se um modo de expressão pessoal. O clown põe em desordem uma certa ordem e permite assim denunciar a ordem vigente. Ele erra e acerta onde não esperamos. Toma tudo ao pé-da-letra no sentido primário e imediato.”

“O estudante de palhaço deve entender que não há nada que aprender, senão apenas reaprender o que lhe é original. Juventude, fantasia, imaginação e inocência precisam ser capturadas, compreendidas e dominadas para desenvolver o nascimento do palhaço. Uma vez que o estudante tenha entendido isto, pode combinar com os conhecimentos prévios e habilidades do ofício que já tenha adquirido e assim, então, estará pronto para aprender algo novo.”
“Todos nós temos um palhaço dentro de nós e temos que ajudá-lo a encontrar a liberdade.” Jango Edwards





“Ele é o corpo do artista que precede o espírito e o corpo dos atores, cómicos, clowns, para ainda nos fazerem rir das dificuldades da vida. Resiste até nossos dias com uma lógica específica como movimento contrário ao controle social e aos processos civilizadores. Olhamos para esse movimento como um tipo de resistência a qual a arte imprime, embora existam processos para estabelecer o funcionamento das estruturas sempre existirá na arte o mecanismo de adaptação e transformação, que guarda a existência secreta de outras divindades que formam a identidade de subverter independente da realidade existente.”







"O clown exige também uma proeza, freqüentemente ao inverso da lógica; ele põe em desordem uma certa ordem e permite assim denunciar a ordem vigente: deixa cair o chapéu, vai apanhá-lo mas, desajeitadamente, dá-lhe um pontapé e, sem querer, pisa na bengala que lhe joga de volta o chapéu nas mãos. O clown erra onde não esperamos e acerta onde não esperamos. Se tentar um salto perigoso, cai, mas o executa quando lhe dão uma bofetada. Assim o clown Grock, escondido atrás de um biombo, conseguia junglar com três bolas, só elas visíveis ao público, o que não conseguia fazer perante o público."




"Essa busca de seu próprio clown reside na liberdade de poder ser o que “é”, e de fazer com que os outros riam disto, de aceitar a sua verdade ..." Jacques Lecoq.

"Se o que você esta fazendo for engraçado, não há necessidade de ser engraçado para fazê-lo." Charles Spencer Chaplin

“ O palhaço faz tudo, sempre, seriamente. Por certo, isto não significa que não queira ser cômico. Ao contrário, sua meta é fazer rir. Mas o verdadeiro cômico consegue isso sem tentar fazer rir a qualquer preço.”






"O riso não é um objetivo, é um meio que leva a idéia até o entendimento."
Karandash







"A função do palhaço é a de fazer público sentir emoções e respirar. Todos inspiram, mas muitos de nós devem ser lembrados de expirar. A imaginação e o cérebro estão conectados ao corpo e o afetam. Qualquer alteração na mente provoca uma mudança no corpo. Qualquer alteração no corpo, na respiração primeiramente, causa uma mudança correspondente na mente. Não diga ou mostre ao público o que pensar, fazer ou sentir. Não diga ou mostre aos seus parceiros o que pensar, fazer ou sentir. Não aponte.
O peso pertence ao lado debaixo. Mantenha um único ponto na parte inferior do abdômen. Mantenha sua energia fluindo. A tensão é sua inimiga. Ela produz dormência emocional, mental e física.
O que você pensa a respeito da sua performance é o que conta, não se ela é realmente boa ou ruim.
O palhaço descobre a platéia que está sentada, olhando para um espaço vazio e esperando por um show. Deve-se lidar com isso estabelecendo-se cumplicidade com o público.
O palhaço cria um mundo no espaço vazio, ao invés de entrar num mundo que já existe (esquete).
Usar mímica para criar fantasia, não para recriar a realidade.
O palhaço procura criar um jogo e definir as regras, as quais a partir de então deverão ser obedecidas.
Não peça ou diga ao público como se sentir ou pensar. Tenha uma experiência emocional e convide o público a se juntar à sua reação.
É essencial ser interessado, não interessante.
Você tem que respirar durante toda a sua vida, mesmo no palco.
O palhaço entra no palco para fazer um trabalho, não para provocar risos. Se houver risos, eles serão interrupções com as quais deverá lidar."
Avner the Eccentric




“O viajante que passa pelos tempos, participa na construção de sonhos, de esperança e de alegria, para comungar e consumar o seu acto e ofício em que os problemas do clown são solucionados pelo globo vermelho visto por meio do grande espectáculo dos fools(espíritos dos clowns), subvertendo e burlando a ordem das coisas para que o espectador adorne-se com a arte de rir da sua própria dor.” (WUO,1999)






“Para poder ser Palhaço aprendi muita técnica. No princípio aprendi, depois esqueci.”
Chacovachi - Argentina

“É um ser ingénuo e ridículo; entretanto, seu descomprometimento e verdadeira ingenuidade lhe dão poder de burlar situações, pessoas com certa impunidade."
Luis Otávio Burnier - LUME Teatro





"A contestação não é o esforço do pensamento para negar existências ou valores, é o gesto que reconduz cada um deles aos seus limites, e por aí ao Limite no qual se cumpre a decisão ontológica: contestar é ir até o núcleo vazio no qual o ser atinge seu limite e no qual o limite define o ser." (FOUCAULT, 2001. p. 34)

"O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é - ou deveria ser - a mais elevada forma de arte." Chaplin

“os palhaços têm um segredo que apenas eles sabem desde que estão no berço” Carequinha
Esses segredos, por ora ridículos - simples -, devem ser revelados para a platéia.

"Uma couraça para não sentir. Uma couraça para não dar, outra para não receber. Uma couraça para evitar o verdadeiro. E um nariz para destruir todas elas e poder mostrar a nossa alma "
"Por meio de improvisações e jogos específicos, tentamos descobrir e derrubar algumas das couraças que adquirimos durante a vida e que a sociedade fortalece eficazmente, impedindo mostrar a nossa essência. Sem estes “escudos” poderemos recuperar o ridículo e o essencial de cada um de nós.O jogo e o prazer constante são os instrumentos para esta busca, mas também o respeito e a tremenda coragem para enfrentarmos com as nossas debilidades."
Lily Curcio






"Um palhaço é acima de tudo uma criação particular, uma exteriorização de algo extremamente íntimo e puro do indivíduo; uma essência que encontra no riso e no exagero a falta de barreiras para sua emergência. O palhaço não é um personagem que alguém apenas veste; o movimento é justamente o inverso, o personagem veste o palhaço. Cabe ressaltar, porém, que o verbete personagem é inapropriado para se referir ao palhaço, pois este último nunca é estanque e sua personalidade se desenvolve de forma conjunta com a do sujeito. Clarice Lispector, em seu livro Água viva, discorre sobre o que ela busca ao escrever. O palhaço em seu contato com o público – utilizando-se apenas de um meio diverso do de Lispector (seu corpo e o riso) –, também busca o mesmo que esta escritora: Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás dopensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. Estou num estado muito novo everdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo. [...] É um contato com a energia circundante eestremeço. Uma espécie de doida, doida harmonia. Sei que o meu olhar deveser de uma pessoa primitiva que se entrega toda ao mundo, primitiva como os deuses que só admitem vastamente o bem e o mal e não querem conhecer o bem enovelado como em cabelos no mal, mal que é o bom15. O palhaço é essa doida harmonia, algo em estado puro, primitivo, que se liga ao mundo com o mínimo de amarras possíveis. É uma energia viva, é a sinceridade de se assumirlimitado, de assumir a dor e ser capaz de rir com o objetivo de a transgredir. Ainda nas palavras de Alice Viveiros de Castro, um palhaço é um ser estranho que bota a mão no fogo, que põe a cabeça na guilhotina e que se expõe nu em sua tolice e estupidez. [...] Ele não conta uma história engraçada. Ele é a graça, ele é o risível. [...] Literalmente o palhaço dá a cara à tapa!16Clown é transgressão de regras; é transgressão do próprio corpo. É a construção de um novo corpo, único. É a liberdade permitida através da arte, do fazer arte, daarte absolutamente viva e ao vivo, porque o clown só é naquele momento. Mesmo que haja uma cena ou um esquete previamente preparados, a graça se fará no improviso. O palhaço se entrega ao improviso, se joga no desconhecido e esse é seu material primordial."
Aureliano Lopes da Silva Junior







"O palhaço é um transgressor e isto ocorre no momento em que, mesmo de forma sutil, oferece uma nova possibilidade para aquilo que se encontrava rígido há tempos. É a personificação do insólito, do não usual, da não norma. Um ponto interessante a ser ressaltado é que tal forma de lidar com o mundo aparece até em suas vestimentas: seu nariz é protuberante e vermelho, sua roupa adquire as mais variadas formas e texturas, seus sapatos são enormes ou no mínimo diferentes, sua maquiagem e cabelo são igualmente livres de modelos prévios e acima de tudo ele constitui-se de uma explosão de cores. Ao palhaço todas as cores, formas e ações são permitidas. E já que ele possui essa permissão para brincar, acaba desempenhando um papel de questionador social. Sobre a importância desta permanência do palhaço como um agente social, novamente recorro aos estudos de Renato Queiroz: O trickster colocaria em jogo, assim, o inesperado, o indefinido,desrespeitando, no nível do imaginário, a própria ordem social. Aindasegundo Balandier, o seu papel seria, sob muitos aspectos, semelhante ao de outros personagens – bufões, mascarados, bobos da corte – aos quais se concede licença para que possam zombar da ordem estabelecida, “quebrandoaparências e desfazendo ilusões”. Muito embora as transgressões cometidas por tais figuras sejam autorizadas pela sociedade, a própria ordem acabariasendo assim reforçada, por meio de um processo catártico, e ainda com o mérito de revelar aos seus integrantes a desordem que poderia se instaurarcaso as normas, os códigos e os interditos viessem a se dissolver. Elemento, aum só tempo, perturbador e agente da ordem, decorreria disto a ambigüidade do trickster26. O papel do palhaço seria, então, o de questionar a ordem social e não exatamente o de modificá-la. O palhaço é a constante escapulida, a subversão da ordem e a subversão da subversão, pois uma vez subvertida, seu produto já não interessa mais; é nova ordem. Seu prazer está em agir e provocar uma agitação no público, incitando-o a repensar o mundo e a si próprio. O clown pode, neste movimento, ser um agente da ordem, mas nunca sem antes lançar sobre ela todas as suas cores, objetivando uma maior reflexão e ampliação do homem e de seu meio, agindo em seu imaginário. Como afirma Paul Radin a respeito do trickster, ele representa os esforços que fazemos todos para cuidarmos dos problemas do nosso crescimento, ajudados pela ilusão de uma ficção eterna." Aureliano Lopes da Silva Junior

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DAS VANTAGENS DE SER BOBO - CLARICE LISPECTOR




O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas.
Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Objetivos do Blog

OS TRÊS OBJETIVOS DO BLOG:

1- SER UM ARQUIVO DE IMAGENS, LINKS E RÁPIDO HISTÓRICO DE CADA PALHAÇO.  VISITEM AS POSTAGENS MAIS ANTIGAS PRA VER TODOS OS PALHAÇOS DAQUI.

2- SER UM PONTO DE TROCA E DISCUSSÕES SOBRE O PALHAÇO

3- SER UM ESPAÇO DE DIVULGAÇÃO DE NOVOS PALHAÇOS E SEUS TRABALHOS (TAMBÉM COLOCAREMOS LINKS NAS FOTOS PARA PÁGINAS E INFORMAÇÕES DE TRABALHOS DE NOVOS PALHAÇOS. NOS MANDEM DIVULGAÇÕES )

COLOQUE O NOME DO PALHAÇO QUE ESTÁ PROCURANDO NA BARRINHA DE "PESQUISAR" AO LADO, EM CIMA, E JÁ SAI EM QUE PÁGINA VOCÊ ENCONTRA FOTO E/OU INFORMAÇOES E LINKS.

Nesse Blog você encontra mais de 500 palhaços em várias "páginas". Divirta-se! ( Falta muita gente . Com calma e com a ajuda de vocês quero fazer o registro mais completo possivel )

Famosos, anônimos, universais, regionais, amarelos, azuis, curtam os zóinho desse povo!

DICA: Para pesquisar no índice vá clicando na setinha antes do ano e mês das postagens que abrirão as subdivisões, ou seja, os títulos de cada postagem e você pode ir especificamente na que te interessa - para que não abra tudo junto e o computador não consiga carregar.

Quem quiser pirar total mesmo e achar todas as imagens de palhaço possíveis, aqui vão alguns outros links:
http://clownalley.blogspot.com/
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_clownshttp://www.mundoclown.com.br/
http://wheelerclown.tripod.com/Clownpage/ClownhistM.html#y
http://www.mundoclown.com.br/
http://wheelerclown.tripod.com/Clownpage/ClownhistM.html#y

Gastão e Chica, Danilo Dal Farra e Lívia Rios agradecem imensamente pela visita! Conheçam nosso trabalho: Procure por nós aqui no Blog, estaremos sempre atualizando peças que estivermos ápresentando e vídeos que fizermos. Baccios!

Espetáculos! (Imagens)


                                              

ESPETÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁCULOSSSSSSSS!










O Mágico de Nós


A improvisação do famoso "Jogando no Quintal" em um espetáculo infantil - "O Mágico de Nós". Com idealização de César Gouvêa (fundador do grupo), os atores deixam de lado seus narizes vermelhos, mas não abandonam a espontaneidade e graça do palhaço. Com dramaturgia de César Gouvêa e Cláudio Thebas (Jogando no Quintal) e com Paola Musatti (Jogando no Quintal), Eugênio La Salvia (Banda Gigante), Hernani Sanchez, Anderson Bizzocchi (Os Barbixas) e Daniel Ayres (Grupo Batuntã) no elenco, a peça reestreou no dia 14 de fevereiro no SESC Avenida Paulista, após temporada de sucesso no Tucarena.

“Queríamos trazer a improvisação para o universo infantil e, como gostamos muito do Mágico de Oz, partimos disso para a criação do texto”, explica o dramaturgo Cláudio Thebas. No início, tudo igual. A pequena menina Dorothy é transportada ao mundo de Oz. Com seus sapatinhos vermelhos, precisa atravessar a estrada de tijolos amarelos e encontrar, com a ajuda do Mágico de Oz, o caminho de volta para casa. No trajeto, descobre um espantalho que queria ser gente, um homem de lata que sonha em ter um coração e um leão covarde em busca de coragem.

O desaparecimento de um dos personagens é o elemento que abre espaço para as improvisações. Para trazê-lo de volta, os atores e as crianças devem inventar histórias que agradem o misterioso mágico. “Quisemos mostrar que muitas vezes a adversidade pode se transformar no motor de propulsão para que a nossa imaginação abra caminho para novas soluções”, conta César Gouvêa, que divide com Cláudio Thebas a dramaturgia do espetáculo.

E é nesse momento que surge a mágica do espetáculo! Se contar uma simples história já é difícil, mais ainda é, através de sugestões da platéia, construir narrativas com começo, meio e fim que agradem adultos e seus filhos. Se alguém merece destaque por esse fato é o elenco de "O Mágico de Nós". Dinâmicos e hábeis, mostraram que estão preparadíssimos para mais uma temporada na apresentação de estreia no SESC.

Uma peça imperdível voltada para a família com diversão e muito aprendizado!

Serviço:
"O Mágico de Nós"
com Eugênio La Salvia, Paola Musatti, Anderson Bizzocchi, Ernani Sanches e Daniel Ayres.
Sábados e domingos às 16h00.
Livre.








PELO CANO
Grupo Jogando No Quintal
São Paulo / SP

A linguagem do palhaço e sua relação com os objetos traçam o caminho deste espetáculo clownesco.
Estes objetos são os dois canos. Um sifão de pia e um tubo cirúrgico, alguns rolos de fita crepe, uma nota de cem reais e uma televisão. O objeto é utilizado em diferentes formas que escapam da sua função cotidiana e utilitária.
Os dois canos e os outros objetos revelam novos espaços, emitem sons incorporando-se às músicas ou adquirem independência como se estivessem vivos. A relação entre as palhaças acaba por se confundir com a relação entre os próprios objetos.
O jogo do espetáculo está na capacidade do palhaço de transformar a realidade em que está inserido e estendê-la ao objeto. Esta relação que se estabelece entre as duas personagens através de seus objetos é o fio condutor da cena e pode nos levar para realidades inesperadas.
Uma afinidade mútua entre personagens e objetos de maneira lúdica e prazerosa que estimula a imaginação. É isso que vemos no espetáculo “Pelo Cano”, em que muitas cenas foram criadas nos quartos e corredores de hospitais, por meio de intervenções das palhaças que participam dos Doutores da Alegria.

Ficha Técnica
Criação, direção e atuação: Paola Musatti e Vera Abbud
Manipulação de objeto: Edu Amos
Cenário: Marisa Bentivegna
Figurino: Daniel Infantini
Iluminação: Marisa Bentivegna
Efeitos sonoros: Marcelo Lujan
Produção: Ludmilla Picosque Baltazar
Indicação: Livre
Duração: 60 min







Circo Zanni


O verão de 2003-2004 foi o momento inaugural da concretização deste sonho: na Praça Pôr do Sol, em Boissucanga, no Litoral Norte de São Paulo, estreou o Circo ZANNI, um grupo de artistas oriundos de diversas gerações de escolas de circo, seguidores de seus mestres e de sua arte.
A partir de recursos próprios, lona e equipamentos alugados e contando com o apoio da Prefeitura de São Sebastião, de comerciantes locais e da ajuda e do incentivo dos amigos, em 3 semanas realizamos 15 apresentações para quase 5000 pessoas.
Esta experiência foi definitiva para o passo adiante... Em 2004, nosso principal objetivo foi a conquista do espaço próprio. Foram dez meses de preparação e busca de recursos que culminaram numa sociedade de nove artistas dividindo a responsabilidade desta conquista. Finalmente em 20 de novembro de 2004, o Circo ZANNI fez sua temporada inaugural com lona própria em São Paulo.
Desde então, o ZANNI cumpre com seu compromisso de não ser mais um projeto eventual e sim um estilo de vida, uma forma peculiar de ver e fazer arte, realizando sessões para um público encantado não só pelo espetáculo, mas também por ver que o Circo continua vivo e seguindo seu caminho.






A Noite dos Palhaços mudos

Pesquisa que sempre se renova em cada um dos que se arriscam com o nariz vermelho, o palhaço tem o dom de permanecer incompleto ao longo da história das artes cênicas. Palhaço sem público reagindo, rindo, completando a obra é quase uma zorra-tot… ops, um não-palhaço. O único personagem que pode se dar ao luxo de ser ingênuo do início ao fim da uma apresentação e, o melhor, quanto mais naïve (ui), mais contagiante. Nesse ano que rodamos por aí, encontramos palhaços sem nariz, palhaços “clássicos“, palhaços “corifeus“, palhaços “políticos“, palhaços “críticos“, palhaços “palhaços“, mas ainda não tínhamos topado com palhaços mudos.
A sacada da história de Laerte, criada em 1987, impõe mais um desafio a quem quisesse adaptá-la ao teatro. O trabalho ficou a cargo da Cia. La Mínima, que transpôs boa parte das cenas concebidas por Laerte em A Noite dos Palhaços mudos, mas soube recriar a história à sua maneira. Nela, valeram-se de efeitos cinematográficos - o próprio palco italiano e as movimentações dentro dele nos remetem à “janela para o mundo” - e não tiveram medo de tirar um personagem que, a princípio, parecia central na história de Laerte e colocar um nariz em seu lugar. E como a peça veio depois de Matrix, todos os personagens que se assemelhavam com o agente Smith - os únicos que não são mudos na história de Laerte - foram unificados num só ator (que também é um palhaço, diga-se, sem nariz).
Mais que uma possível crítica às corporações e seus funcionários, na forma da peça - palco quase sempre limpo, pouquíssimos elementos cênicos, jogos de luz sem virtuoses - descobrimos que o potencial crítico do palhaço também está na criação de mundos a partir de muito pouco - fique bem claro que não estou dizendo “menos é mais”. A chave da montagem é o jogo que se estabelece com o público e o entrosamento do trio que parece ter se preparado além da conta.
Laerte estava presente na estréia e foi legal constatar que o cara - repito O Cara - consegue se divertir com a recriação de sua própria história. Ele, provavelmente melhor que todos naquela sala, sabe que sua história foi reapropriada, reeditada, recriada e que agora ele passou a ser no máximo um co-autor, o que já é um grande mérito, tendo em vista o resultado apresentado. Os quadrinhos brasileiros mal começaram a mostrar o seu potencial nos palcos e no cinema, mas pelo menos no caso dessa adaptação já saímos desejando que venham outros com o mesmo ímpeto criativo.
Fabrício Muriana

Palhaços Mudos revolucionam pela poesia e simplicidade


Não é de hoje a parceria entre o La Mínima, de Fernando Sampaio e Domingos Montagner, e Laerte. Em “Piratas do Tietê – o Filme”, de 2003, tendo Rogério Lopes como co-roteirista e Beth Lopes na direção, o universo do quadrinista teve uma adaptação muito bem sucedida, quase uma superprodução,
com elenco grande e ilustre no palco do Teatro Popular do Sesi.
Agora, com os “Palhaços Mudos” como protagonistas, a estratégia não poderia ser a mesma. A exuberância dos Piratas, que já mereceram revista própria e até hoje nomeiam a tira de Laerte na Folha, dá lugar a um humor contido, ao mesmo tempo ingênuo e melancólico, cuja delicadeza exige uma
encenação minimalista e uma técnica apurada.
Surgidos na revista Circo número 4, em 1987, foram considerados “personagens de uma história só” pelo próprio Laerte, depois de uma seqüência não tão boa três números depois (“Os Palhaços Mudos e a
Ameaça Nuclear”), mas permaneceram vivos na memória dos fãs.
São como uma alegoria felliniana à resistência contra a repressão militar. Com uma trama extremamente simples – dois palhaços invadem uma espécie de fortaleza do TFP para impedir a execução pública de um deles – a história vale como uma antologia de piadas essenciais, como se vê nos filmes mudos: pulam um portão que estava aberto, usam guarda-chuvas como para-quedas, etc.
O grande trunfo do La Mínima foi o de ter convidado Álvaro Assad para dirigir e adaptar o espetáculo. Diretor do “Centro Teatral e Etc e Tal” do Rio de Janeiro, que desde 1993 desenvolve a exigente técnica da pantomima, Assad acerta ao manter a simplicidade da trama original, mudando apenas a premissa: os palhaços se arriscam para resgatar o nariz emblemático de um deles, mutilado na primeira cena. A imagem de Sampaio desamparado, com um curativo no lugar do nariz, querendo se matar desajeitadamente, remete ao Baptiste de Jean-Louis Barrault no “Les Enfants du Paradis”: uma pantomima clássica, entre o melodrama e o teatro de bonecos. Fiel escudeiro de Sampaio, Montagner se beneficia com um grande achado do roteiro: seu personagem leva consigo um despertador que, quando acionado, obriga seu dono a executar um número de circo, sejam quais forem as circunstâncias. Completa o elenco, se desdobrando no papel de todos os inimigos de terno, Fábio Espósito, um dos melhores clowns que o Cirque du Soleil pôde ter, agora acessível a todas as platéias.

Embora a situação dramática única se dilua um pouco ao longo da peça, os achados cênicos, que anarquizam poeticamente os excelentes recursos de trilha sonora, luz e cenário, conseguem o mais difícil: reproduzem fielmente o clima non-sense de Laerte, que vem revolucionando diariamente a técnica de humor, sem fazer alarde e de peito aberto, como as crianças e os heróis da resistência política.

Escrito originalmente para o jornal Folha de São Paulo, no dia 02 de maio de 2008 por Sérgio Coelho







O Não-Lugar de Ágada Tchainik

Presa entre desastres, onde a sobrevivência é tudo, e cada próximo passo é uma decisão agonizante a ser – ou não ser – tomada, Ágada Tchainik aparece, convidando o público a segui-la, junto com seus “companheiros de estimação”, em sua viagem. Compulsiva, à beira de um ataque de nervos, com sua fala errante, ela torna o público seu grande parceiro, com quem interage, ora convocando sua ajuda, ora implicando com algum espectador, ora provocando, rindo, brigando. Conforme ela caminha por sua própria mente confusa, passeando por assuntos diversos, que vão desde lavar pratos até problemas diplomáticos, o drama de sua alma, ridícula e dolorosamente, se revela.
O espetáculo estreou em julho de 2004, dirigido pela canadense Sue Morrison, diretora artística do Theatre Resource Centre em Toronto e conhecida mundialmente por seu método de trabalho “O Clown Através da Máscara”, que mescla a tradição do clown sagrado das tribos indígenas norte-americanas com a do clown europeu.



Ficha Técnica Topo
Criado e escrito por: Naomi Silman e Sue Morrison
Atriz: Naomi Silman
Direção: Sue Morrison
Iluminação: Eduardo Albergaria
Construção de cenário: Abel Saavedra
Confecção de adereços: Abel Saavedra e Eduardo Albergaria
Apoio à pesquisa: FAPESP
Produção: LUME Teatro

“Necessitamos construir um palhaço que fale aos nossos dias de hoje, não só uma coleção de gags, mas um arquétipo que revela a essência do performer/ator. Este é um clown que nos dá uma sensação maior do divino em cada um de nós. Que celebra nossa humanidade, nossa animalidade e os momentos em que podemos tocar um ao outro através do riso”.
(Sue Morrison)



Cravo, Lírio e Rosa

Os palhaços Carolino e Teotônio chegam com suas malas. Dois grandes patetas que como lados de uma mesma moeda, se completam e se opõem, compondo um entrelaçar de situações ridículas e delicadas dentro de um universo de objetos lúdicos e surpreendentes. Com seus jogos e gags, danças e duelos que destilam uma afeição subliminar, esta inseparável dupla toca profundamente o espectador.
Construído a partir da interação da clássica dupla de palhaços: o “Branco” e o “Augusto”, imortalizada pela famosa dupla do cinema “o Gordo e o Magro”, as relações humanas são a matéria prima desse espetáculo, relação não apenas entre os dois palhaços, mas também entre eles e sua platéia - elemento sem o qual essas brincadeiras não poderiam acontecer.
Criado em 1996, já se apresentou por todo o país e também na Espanha, Finlândia, Egito, Israel, Bolívia, França, Equador, EUA e Itália.

Ficha Técnica
Criação e concepção: Ricardo Puccetti e Carlos Simioni
Atores: Ricardo Puccetti (Teotônio) e Carlos Simioni (Carolino)
Concepção e confecção de cenografia e acessórios: LUME e Abel Saavedra
Produção: LUME Teatro

“magnetizando o público... eles falam para nós de uma forma profundamente humana. ...Uma dedicação ao ofício da arte teatral. ...a beleza e a relação do teatro físico no seu auge.”
(Brenda Bishop, THE TIMES-STANDARD, E.U.A)







Inventário


O riso crítico
O riso e a crítica nem sempre foram vistos com bons olhos ao longo da história. Proibições morais e institucionais impediam sua livre existência. Em pleno século XXI, não temos mais estas amarras ideológicas no ocidente para nos reprimir, mas a liberdade também traz seus desafios. O riso e a crítica nem sempre são tratados com o respeito que merecem. Neste sentido, é maravilhoso encontrar um grupo de teatro que se propõe a encarar este desafio de frente e sem as facilitações que a maioria acaba optando. O espetáculo “Inventário” do Doutores Palhaços do Grupo Roda Gigante é um bom exemplo disto. A temática da vivência em hospitais, que é fruto das intervenções destes atores no mundo hospitalar do Rio de Janeiro, é instigante e ao mesmo tempo nos coloca contra a parede. Como a dor pode ser engraçada? Trabalhar neste limite é a maior virtude do espetáculo. Os atores e atrizes conseguiram extrair dos seres humanos que formam o universo hospitalar a essência da experiência humana diante do dolorido espectro da morte. Estes trabalhadores do teatro são muito sérios. Parece estranho quando estamos falando de artistas-palhaços. Mas, estar em cena e saber fazer, inclusive a autocrítica de suas próprias ações não é para qualquer um. Atores e atrizes que não caminham pelo fácil e que conseguem trazer a platéia para dentro da cena com segurança, sem medo de romper as paredes que normalmente se colocam entre ator e público. A técnica dos atores e atrizes está sob a pele, impregnada e orgânica, ela está a serviço do fazer teatral. Uma direção competente que sabe organizar o caos. Isto é ser diretor, não deixar que o excesso se imponha nem tampouco colocar os atores numa camisa de força. Direção que, mesmo investindo em cenas frontais, não deixa se perder o que ocorre ao fundo, tão relevante como o que ocorre no procênio. O “Inventário” é destes espetáculos que nos fazem rir e chorar. Emocionamo-nos muito ao longo do trabalho. Que bom ver a crítica inteligente e embasada e o riso que não é barato. A comédia é isto, coisa séria. Vida longa ao “Inventário”.

Lourival Andrade


CONTINUA NO POST "MAIS ESPETÁCULOS" - DÊ UMA ESPIADA PARA VER TODOS OS ESPETÁCULOS QUE SELHECIONEI E INDICO PRA QUEM QUISER VER BONS PALHAÇOS NOS PALCOS.   BEIJOS

sábado, 16 de janeiro de 2010

Mais Espetáculos! (Imagens)

SENHOR DODÓI
Gênero: Infantil
Duração: 60 min.
Direção: Angelo Brandini
Elenco: Claudia Zucheratto, Roberta Calza, Nereu Afonso da Silva e Thaís Ferrara
Senhor Dodói ganhou prêmio de melhor direção muscial com Fernando Escrich!

APCA - Associação Paulista de Críticos de Artes - escolhe os melhores das artes em 2008. Os críticos de São Paulo elegeram os melhores de 2008 nas categorias: Artes Visuais, Cinema, Dança, Literatura, Música Erudita, Música Popular, Rádio, Teatro, Teatro Infantil e Televisão.

Fernando Escrich, que é artista formador e coordenador de Expansão da organização, ganhou na categoria Teatro Infantil como melhor diretor musical pelo espetáculo Senhor Dodói! Eeeeeeee!









Sobre tomates, tamancos e tesouras

Roteiro e dramaturgia de Andréa Macera (foto), que atua, e de Rhena de Faria, que dirige. Realização Barracão Teatro
Por Redação

O espetáculo retrata um crime que envolve o uso de tomates, uma tesoura, um tamanco e a apresentação de uma artista de cabaré. Por meio de flashbacks, o espectador conhece uma realidade deturpada dos fatos.

O solo é criado por artistas de dois importantes núcleos de pesquisa da arte clownesca. Preste atenção em como no espetáculo, inspirado em clichês de filmes noir, a plateia é obrigada a tirar as próprias conclusões sobre o que de fato aconteceu.





A JULIETA E O ROMEU

Estado de São Paulo - Caderno 2 - sexta-feira, 17 de agosto de 2007 Com seu personagem, Esio Magalhães comove e nos faz rir de coisas singelas
CRÍTICA HUGO POSSOLO ESPECIAL PARA O ESTADO

Palhaço não nasce pronto. Fosse assim, grandes nomes como Arrelia ou Piolin, não teriam hesitado para entrar em cena a primeira vez. Ainda bem, que alguns persistem e aceitam a missão de se dar ao ridículo para fazer os outros rirem. É o caso de Zabobrim, fazedor de abobrinhas como seu nome sugere, interpretado por Esio Magalhães, do Barracão Teatro, de Campinas. Peço licença, não lá muito poética e quase deselegante, à sua parceria de cena, Mafalda, interpretada por Andrea Macera para me concentrar no excêntrico Zabobrim. Em A Julieta e O Romeu, que encerra hoje temporada no Teatro Fábrica, assiste-se a um palhaço daqueles que tocam fundo a alma de tanto que fazem a gente rir. Esio, ou melhor, Zabobrim leva a fundo sua tarefa, domina o tempo de suas brincadeiras, improvisa sem cerimônia e atua com o corpo, livre de imposições cerebrais, sugerindo que ele veio pronto. Mas é apenas parte da longa trajetória onde a capacidade intuitiva de Zabobrim foi forjada. Justamente a intuição, muitas vezes usada para menosprezar o ator que trabalhe independente dos ditames acadêmicos, é a grande fortuna da arte popular. Zabobrim não folcloriza o palhaço, mas satiriza a atuação dirigida e vigorosamente aplica-se em desfazer a lógica do pensamento hegemônico.Talvez o programa da peça se complique ao tentar explicar algo simples: estão ali para nos divertir, sem máscaras. Às vezes um nariz vermelho, que nada esconde quem o representa. O palhaço, por ser um arquétipo, é um pouco representação e um pouco o próprio ator. Só assim um palhaço é diferente do outro.Felizmente, Zabobrim segue a tradição pícara dos mestres do picadeiro. Emociona porque nos faz rir de coisas singelas, nos colocando em contato com uma ingenuidade que, por vezes, esquecemos ainda ser possível.Porém, não posso, simplesmente, dizer que gostei. Seria pouco. Sou apenas mais um palhaço que, aliás, poderia ser motivo de comentário, agradável ou desagradável, nessas mesmas páginas de jornal.Explico. Minha análise aqui tem função crítica. E, salvo raríssimas exceções, a crítica contemporânea dificilmente consegue enxergar a obra em seu contexto. Desconsidera o processo de trabalho do artista exigindo-lhe mais um produto de consumo que uma obra de arte. Pedir digestão rápida e boa embalagem, nesse globalizado mundo de resultados, tem transformado peças de teatro em latas de extrato de tomate. A crítica que se deixa ser guia de consumo prejudica o público, leitor de jornal, que ali busca orientação. Um apanhado subjetivo de ?gostei? e ?não gostei? reduz a complexidade da expressão artística a uma visão individualista que, em sua essência, não lê a realidade social, cultural e política na qual se insere a obra.Por exemplo, podemos ser bombardeados por uma avalanche de anúncios, que custam caro, divulgando um bom espetáculo internacional de palhaços, trazido por alguma grande empresa de entretenimento. A imprensa terá a tarefa de cobrir o evento. Que devemos fazer? Negar suas qualidades? Sermos xenófobos?Acho que não. Valorizemos os talentos que temos e sejamos oswaldianamente antropófagos. Sejamos Zés Celsos nus cavalgando pelas pequenas Ágoras desta cidade e usemos o poder do teatro.Assim, Zabobrim não pode ficar limitado a ser um bom palhaço. É mais. É um valor simbólico gerado sobre o circo brasileiro, que os meios de comunicação têm dificuldade em captar, dar visibilidade ou traduzir. É marca de um momento de maturidade de vários palhaços como o Padoca, de Fernando Sampaio, ou a Margarita de Ana Luíza Cardoso, ou o João Grandão, de Márcio Ballas.Representa a força que o palhaço brasileiro vem recuperando com publicações como Palhaços de Mário Fernando Bolognese, ou o mais recente O Elogio da bobagem, de Alice Viveiros de Castro ou ainda, saindo do forno, Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense de Ermínia Silva.É, também, fruto da luta de vários artistas de Campinas que, há mais de dez anos, no bairro de Barão Geraldo, firmaram a opção pela descentralização da difusão e da pesquisa teatral.Talvez não precisássemos de Zabobrim para destacar isso. Porém, o espetáculo A Julieta e O Romeu traz uma clara metáfora sobre uma interpretação anacrônica, representada pela diva Mafalda, que é engolida pela avidez instintiva do palhaço e sobrevivente Zabobrim.Não se pode confiar nos palhaços, que dizem tantas bobagens que, de tão tolas, nos jogam de frente a verdades que passavam ao largo.Vai Zabobrim!... Segue dançando com tua vassoura, enche o mundo de abobrinhas que nem são tão abobrinhas assim, e varre com alegria a tal tristeza que vive a nos espreitar.
Hugo Possolo, palhaçoe dramaturgo, é também diretordo grupo Parlapatões e do Circo Roda Brasil.






                                                     JOGANDO NO QUINTAL

Tudo começou no início de 2001, quando os palhaços César Gouvêa (Cizar Parker) e Márcio Ballas(João Grandão) decidiram criar, nos fundos da casa de César, um espetáculo que unisse suas duas paixões: palhaço e improvisação. Daí nasceu o Jogando no Quintal – um jogo de improvisação de palhaços com toda a ambientação de um jogo de futebol: hino do clube, placar, bandeiras, juiz, jogadores e, é claro, a torcida.







César Gouvêa (Cizar Parker)


























Marcio Ballas (João Grandão)

















Vera Abbud (Emily)







Paulo Federal (Adão)








Rhena de Faria (Mademoiselle Blanche)



























Paola Musatti (Manela)


















Cláudio Tebas (Olímpio)





















Nando Bolognesi (Comendador Nelson)










Nando Bolognesi (Comendador Nelson)e Cláudio Tebas (Olímpio)









Allan Benatti (Chabilson)













Eugênio La Salvia (Manjericão)



















Lú Lopes (Rubra)














Marco Gonçalves (Fonseca)
















Gabriella Argentto, a palhaça Du Porto







Marco Gonçalves (Fonseca), Danilo Dal Farra (Gastão) e Álvaro Lages (Pelanca)

"Pessoal,
vcs são fantásticos, artistas fabulosos, daqueles que conseguem, realmente, nos transportar para outro mundo, o mundo do riso, da arte e da inocência de um palhaço! Assisti vocês na sexta, aqui em BH, me encantei pelo trabalho de vcs! Obrigada pelo momento, e que vocês continuem brilhando nos picadeiros do mundo! Parabéns! Um grande abraço."
Fran










Palhaços

Abaixo a reflexão do diretor da Peça "Palhaços" Gabriel Carmona: Para que serve o artista?
Não há resposta absoluta. Pode até ser perigoso dar utilidade a algo que, por natureza, é inútil, tal qual fazer amor, festejar ou pensar.
Mas mais perigoso, chato e emburrecedor, é o que acontece hoje. Como em muitos momentos da história ocidental, a arte torna-se novamente instrumento moralizante, como um domador de circo, a serviço da ideologia vigente que nos quer amortecidos, apaziguados.
A intenção é clara: levar o indivíduo para longe de si, da sua realidade e dos seus desejos mais profundos e legítimos. Sentimento torna-se sentimentalismo, opinião torna-se senso comum.
Não sabemos a resposta, mas sabemos que o diálogo entre artista e sociedade, como tantos outros, está infantilizado, mecanizado e muito aquém de suas reais possibilidades. A fama é um véu que separa duas pessoas iguais: criador e público. Estamos todos no mesmo barco!
Mas já não basta denunciar, apontar as deformações nas relações sociais, interpessoais e de qualquer âmbito. Agora, é preciso desmontá-las, descobrir o que leva alguns artistas a se colocarem como detentores da verdade salvadora ou prostitutos do dinheiro e da fama.
E descobrir também como parte do público transformou-se em mero consumidor de entretenimento, que não quer pensar, nem ser desafiado ou posto em cheque, mas somente, por alguns minutos, sair dessa vida monótona e maçante para entrar no reino da fantasia, onde o mocinho sempre vence e o mal sempre é o outro.
O espetáculo é uma tentativa desesperada de comunicação, de diálogo. É isso que queremos. (Gabriel Carmona)




"O Sapato do Meu Tio"(BA)                                                                      PS: quem não viu vá!



Se alguém me perguntasse de que matéria é feito O sapato do meu Tio, não saberia responder. Os sapatos são feitos geralmente de couro de um animal, antes esticado e posto no curtume, para o nosso conforto. Mas este espetáculo fala de pedras que ficam no sapato, incomodando. A fome, a convivência, o domínio da técnica, a recepção do público, a luta pela sobrevivência, a vontade de se superar e superar o outro, uma carroça, um par de sapatos, um palhaço e seu sobrinho-ajudante-querendo-também-ser-palhaço, o mestre-aprendiz e o aprendiz-mestre. Esses são alguns dos ingredientes de uma fábula sobre a transitoriedade da vida.(João Lima e Alex Simões)

Texto e atuação Alexandre Luis Casali e Lucio Tranchesi
Direção João Lima
Produção Selma Santos
http://osapatodomeutio.blogspot.com/